Olhar o invisível!
«Nada é exactamente o que parece, mas precisamos trabalhar com aquilo que podemos ver, como se isso fosse a história completa, sabendo sempre que a história está mudando a todo o momento, que há sempre mais do que o que podemos ver e, em geral, um cisco no olho que nos impede de ver a nossa própria presença na intervenção (…)Então o nosso profissionalismo deve se basear nisto: não negar, mas abraçar as contradições inerentes à nossa arte e transformá-las em nossas fortalezas»
in Kaplan, Allan, Artistas do Invisível, o processo social e o profissional de desenvolvimento, ed Peirópolis Ltda, São Paulo 2005, p.193
Tenho uma planta em casa que tem um significado especial por ter pertencido a alguém que não está mais entre nós de forma visível! Há dois anos, essa planta parecia ter morrido…ainda insisti em tratar a terra do vaso, sem que nada parecesse aparecer! Passado um tempo desisti e deitei no quintal o resto de terra sem vestígios de vida!
Este ano, num dia frio de inverno, olhei lá fora no canteiro e pareceu-me ver novas pernadas dessa mesma planta, que, a muito custo, por ser uma planta de interior, parecia despontar. Delicadamente, voltei a transplantar o mesmo pedaço de terra para um vaso que voltei a colocar dentro de casa. Esperei! Acreditei! Passado poucos dias novos pézinhos despertavam nessa vaso. Hoje é uma planta cheia de vida e flor! Fiquem a pensar no quanto de invisível acontece à nossa volta! Invisível porque muito acontece sem que o vejamos!
Pensei ainda na importância de acreditar! De como aquela delicada planta dependeu da minha esperança para voltar a florescer cheia de força! De como isto acontece tantas e tantas vezes nas nossas vidas, algumas sem darmos conta! Acreditar pode fazer a diferença para que se cuide, se mantenha a atenção e se dedique tempo para que algo aconteça!
Observei ainda o quanto muito tem de ser deitado à terra para que, na invisibilidade, muito volte a renascer, a surgir!
Por vezes com dor, incompreensão e mesmo revolta…porque teimamos em não aceitar que não nos cabe ver tudo com os olhos, mas sim com o olhar! Mas o momento em que paramos e nos abrimos à oportunidade de olhar…DEScobrimos muito para além do evidente: descobrimos que fazer escolhas é fundamental, que aceitar oportunidades e largar outras, fará parte da vida, que as pessoas que nos envolvem estão cá por uma razão, que entre o ter e o ser vai a tal diferença que só no invisível se descobrem…e muito mais!
Olhar o invisível requer atenção e predisposição natural. Requer cuidado e abertura de coração: mas não é difícil!
O meu convite hoje é para que confiemos também, que não nos cabe a nós ver tudo! Que a cada um cabe a parte que que lhe compete: confiar, agir e cuidar!
E se sentires que será melhor cuidares do teu olhar para o invisível em grupo ou comunidade, vem DEScobrir!
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